Maria de Lurdes Rodrigues tomou posse da pasta da Educação há quatro anos e meio. Não sabia nada do que se passava nas escolas. Pouco sabia de Educação. Vocacionada para a engenharia social, pediu ao seu mentor João Freire que a ajudasse a construir um quadro teórico, conceptual e instrumental para dobrar a espinha aos professores, dividi-los, domesticá-los e empobrecê-los. Nascia assim o novo estatuto da carreira docente. José Sócrates aplaudiu e viu no novo ECD um instrumento para a redução da despesa pública. Como não sabia quase nada de Educação, pediu a Valter Lemos que conduzisse o barco que a levasse ao porto desejado da "construção estatística do sucesso escolar", da "escola-armazém" e do "professor-faz-tudo". Valter Lemos fez-lhe a vontade e, em quatro anos, redigiu mais despachos do que todos os secretários de estado da educação dos últimos quatro governos juntos, fazendo abater sobre as escolas um dilúvio de legislação com os preâmbulos e introduções mais "eduqueses" de que há memória. E para dobrar a espinha aos sindicatos, Maria de Lurdes Rodrigues foi buscar um conhecido sindicalista do PS: Jorge Pedreira. E o trio criou uma "revolução" nas escolas, varrendo com ela a liberdade de expressão, a autonomia pedagógica e a democracia escolar. Foram quatro anos e meio a tratar os professores como funcionários subalternos destituídos de autonomia técnica e as escolas como postos de venda de uma mercadoria a que eles deram o nome de "qualificação" e "certificação". Maria de Lurdes Rodrigues virou "CEO" de uma grande empresa com o nome de "sistema educativo" e a que alguns preferem chamar "unidades de gestão" e colocou os directores gerentes de balcão a responderem directamente aos directores regionais directores comerciais instalados nas DREs. E, com o objectivo de domesticar os gerentes de balcão, lançou sobre os inconformistas uma legião de inspectores que tudo controlam e tudo fiscalizam, espalhando o medo por onde quer que passem.
Publicada por Ramiro Marques
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