Perante tudo o que se tem sucedido nas últimas semanas, que nos fazem pensar que nada está garantido em matéria de futuro próximo ou intermédio, acordado ou não, o que resta para a luta dos professores contra aquelas mudanças que consideram mais gravosas para a Educação e para a sua profissão?


No Expresso de hoje, em peça de Isabel Leiria, é dado destaque a um estudo já por aqui falado há meses, que demonstra uma relação entre as reformas do mandato anterior e uma quebra de rendimento dos alunos em exames. Sei que tem algumas conclusões polémicas e que carece de maior aprofundamento, mas demonstra que as reformas encetadas em 2005 têm aspectos negativos que vão para além da opinião, dita corporativa, de muitos professores.


Pelo que agora, à aproximação de meados de 2010, num contexto político e económico bastante diverso (pelo menos na superfície) do de 2008 é necessário reequacionar o que podem ser as tácticas de luta dos professores ao serviço de uma estratégia a médio-longo prazo que vise a recuperação de direitos que lhes foram sendo sucessivamente negados e/ ou cortados.


As hipóteses são diversas, embora limitadas pelo avanço do ano lectivo, desde o esperar para ver antes que nos caia alguma coisa em cima até a um apelo a uma patuleia ou maria da fonte pelas escolas.



  • As hipóteses mais radicais passam pelo apelo a greves por tempo indeterminado, greve a exames e/ou avaliações. É a estratégia de risco, com impacto necessariamente negativo na opinião pública. Seria uma demonstração de força, mas é uma incógnita saber qual o grau de mobilização/adesão. E as propostas limitam-se normalmente ao restabelecimento de um status quo perdido.


  • A estratégia tradicional, mais segura, é a que irá ser acenada por algumas organizações sindicais e passa pela integração da contestação dos professores num movimento social de rua mais amplo, seja no âmbito da Função Pública ou dos trabalhadores em geral. Tem a sua lógica mas, por regra, é uma estratégia que se define pela oposição, raramente trazendo consigo propostas concretas de alternativa ao que está a ser feito. Seria importante que essa estratégia trouxesse consigo propostas concretas e não apenas slogans.


  • Há uma estratégia menos tradicional que pode passar pela aposta em lutas sectoriais, baseadas no reforço da coesão de grupo, com objectivos mais específicos, apostando na demonstração de propostas alternativas como melhores do que as propostas pelo Governo (em matéria de modelos de carreira e avaliação do desempenho, mas também da organização e funcionamento das escolas no sentido da racionalização dos recursos). O problema é perceber, nesta altura, quais as formas de pressão que podem ser despoletadas para além do soft-power discursivo. O calendário do ano escolar é ingrato, pois a margem de manobra é escassa.


  • Num extremo da inacção temos a opção por não agir, baixar os braços e esperar que a tempestade passe e a bonança chegue um dia. Esta é a posição daqueles que ou desistiram de ter uma acção em prol do seu presente e futuro, que estão demasiado desiludidos com tudo ou que acham que não há alternativas perante o panorama macro-económico em que estamos. Como é natural é a opção que significa o fim de um ciclo de luta por parte dos professores.

Com um cenário destes, e antes de eu fazer por aqui uma sondagem a propósito, o que acha quem por aqui passa? Há outros caminhos? Quais?


O que podemos, ainda, fazer?


Posted by Paulo Guinote