Foi do dia para a noite, ou mais precisamente, da manhã para o fim da tarde. O Papa conhecido pela sua rigidez e falta de carisma mediático, chegou a Lisboa para as primeiras cerimónias oficiais sem deixar o seu lado formal e institucional. Foi assim na cerimónia de boas vindas, no Mosteiro dos Jerónimos e no Palácio de Belém. A mensagem foi dada, as referências à República e à certeza da separação dos poderes do Estado e da Igreja, foram entremeadas com os agradecimentos normais. Tudo com o rigor e o cerimonial próprio de um estadista e de um chefe do Vaticano.
As mais altas figuras do Estado, desde Cavaco Silva a Jaime Gama, passando por José Sócrates e Silva Pereira, assistiram a um discurso que, mais uma vez punha a tónica na esperança, mas que não deixava de apontar o dedo aos pecadilhos da Igreja Católica.
"Igreja jamais será destruída"
Depois do discurso a bordo do avião , onde o Papa claramente assumiu a necessidade da hierarquia católica passar por uma "purificação", de "aprofundar a necessidade de penitência", assim como de "pedir perdão e que se faça justiça", Bento XVI voltou a referir-se aos "pecados" da sua Igreja. "Sabemos que não lhe faltam filhos insubmissos e até rebeldes", mas, acrescenta o Papa, também "colou-se uma confiança excessiva nas estruturas e nos programas eclesiais".
A Igreja não é perfeita, assume o Papa, mas está longe de perdida "Nenhuma força adversa poderá jamais destruir a Igreja", disse o Papa em pleno Terreiro do Paço, interrompendo a homilia para ser saudado com uma nova salva de palmas.
Tendo sido assim o primeiro dia da presença de Bento XVI em Portugal: do ponto de vista doutrinal, o Papa quer deixar claro que não está disponível para omitir ou silenciar os erros passados e presentes dos seus "pastores". Para prová-lo estão as palavras que já proferiu e que, sem nunca se referir directamente ao escândalo da pedofilia, acabou por o manter sempre presente nas suas intervenções.
Simultaneamente atento e crítico em relação aos "pecados da Igreja", o Papa não deixa de apontar um caminho e de usar e abusar da palavra "esperança". D. José Policarpo resumiu bem na sua intervenção o que se espera do Papa num dos momentos mais críticos da vida dos católicos. "Transmita-nos a vossa coragem de sofrer com serenidade", disse a Bento XVI.
In Expresso
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