As notícias de “booling”, de violência verbal e física entre os jovens, de agressões a professores estão a tornar-se demasiado frequentes, sem que uma voz da tutela surja nos meios de comunicação social a condenar inequivocamente tais actos. A regra é a ignorância, a indiferença, a desvalorização dos factos. A regra é o silêncio cúmplice e irresponsável (para não ir mais longe). A regra é produzir declarações que desautorizam a classe docente, que fazem crer a alunos e muitos encarregados de educação que os professores não querem trabalhar, que são os verdadeiros culpados pelo insucesso escolar. E tudo isto já se tornou estranhamente, revoltantemente, perigosamente banal.
Na escola actual, já não há pessoas felizes! Ao invés, toda a comunidade que aí convive diariamente está a trilhar os limiares da paciência, da frustração, do desinteresse, do desalento… Embora cada grupo tenha as suas razões específicas, todos raiam os seus próprios limites. Os professores, humanamente, não têm razões para sorrir: perderam tudo o que havia a perder, desde as mais pequenas questões laborais e salariais até aos altares sagrados do respeito e da dignidade profissional. Os auxiliares de acção educativa, cada vez menos especializados seja no que for, ganham salários miseráveis e passam os dias a deglutir todo o tipo de desconsiderações e insultos, atirados por catraios que poderiam ser seus filhos, netos… Tudo se lhes pede e pouco se lhes dá. Finalmente, os alunos, aos quais esta escola diz cada vez menos. E porquê? Porque os jovens gostam de desafios, e esta escola trata-os como deficientes mentais! Porque os jovens gostam de conhecer e explorar todas as suas capacidades, e esta escola dá-lhes a “papinha mastigada”! Porque os jovens precisam de regras claras, de limites bem definidos, e esta escola oferece-lhes um universo de valores confuso, contraditório, paradoxal, onde quase tudo é permitido, onde o “bombo da festa” é aquele que deveria ser admirado e respeitado. Porque os jovens precisam de ver na escola a essência de um mundo justo, que estimula e premeia a excelência, mas que também pune a violência, penaliza a preguiça e o desinteresse. Os jovens precisam de uma escola que faça a apologia do trabalho, da capacidade de sofrimento e não de uma escola de banda desenhada, onde tudo tem de ser lúdico e fácil, onde há sempre um “happy end”. Esta escola está nos antípodas das necessidades dos jovens!
Se adicionarmos a todos estes factores — chamemos-lhes endógenos — umas pitadas de adrenalina oriunda do desemprego crescente, da criminalidade crescente, das crescentes dificuldades económicas das famílias, da violência doméstica crescente, das taxas de divórcio crescentes, do abandono crescente das crianças e jovens… facilmente concluiremos que estamos, não sobre um barril de pólvora, mas dançando sobre um vulcão. Mas isso não tem a mínima importância, pois estamos num país onde a culpa só tem dois destinos: ou morre solteirona, ou casa com pobres e desgraçados.
Luís Costa
1 comentário:
O Vulcão está latente, sim, quando não está em erupção, aqui e ali.
Há várias erupções, não as podemos nem devemos esconder, mas denunciá-las, mostrá-las, para que todos vejam e sintam em que condições trabalham os professores, quantas vezes infra-humanas...
É urgente que a opinião pública não seja mais manipulada e entenda que só com regras e trabalho é possível ensinar e aprender. O facilitismo não nos leva a lado algum senão à inverdade e à fachada de estatísticas manipuladas.
É urgente uma escola pública digna que reconheça o trabalho meritório dos professores, por todo esse país.
É urgente que os pais não se desresponsabilizem e que os políticos se coloquem do lado certo da barricada: a guerra é diária, desgastante e torna-nos cada vez mais infelizes, sim.
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Uma professora tantas vezes (cada vez mais) infeliz...
Bjs
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