terça-feira, 23 de setembro de 2008

Choque pedagógico...

Choque pedagógico - Venha o desfibrilador! - Parte Um. Mais um texto de Luís Costa



Vou tentar ser breve — sintético e sincrético — como faço quando escrevo poesia. Já tenho a fita métrica na mão, para não me exceder. É uma fita métrica de metal, porque as das costureiras não são de fiar: são de plástico e, por isso mesmo, dilatam com o calor e muito mais com o nervosismo. E estou nervoso que eu sei lá! Vamos então aos “finalmentes”, ao diagnóstico da situação, uma vez que, nos dias que correm, esta é a palavra que mais se ouve nas escolas: até as fotocopiadoras andam enjoadas!


Ministra e seus acólitos
Trio maravilha, que está a colocar na roda, para adopção, a Escola Pública criada pelo saudosíssimo Marquês de Pombal. “Resultados escolares mais agradáveis à vista, com menos dinheiro”, parece ser o lema. E vamos bem, muito bem encaminhados para atingir este objectivo: às tantas até já o atingimos e eu nem conta dei! A fórmula não é complicada: desqualificação profissional do professor, tornando-o “pau-para-toda-a-colher” — a quantidade de horas que o docente tem de passar na escola são a prova evidente do desinvestimento na sua acção individual, na concepção e planificação das aulas, na investigação necessária a um trabalho de qualidade (os manuais são enlatados curriculares adequados a quem não tem tempo, ou não sabe cozinhar); diarreia legislativa indutora de desorientação, de incerteza — passadeira vermelha para a arbitrariedade, para o apriorismo, para o abuso no exercício do poder nas escolas; instauração de um clima de medo, de divisão da classe, que tem empurrado muitos professores para a subserviência acrítica, para uma subalternidade encolhida.
Todos estes factores acabam por tornar “natural” o depauperado estatuto social do professor e o seu miserável poder de compra. Quem não estiver contente, tem sempre a possibilidade de ir-se embora, como disse Lurdes Rodrigues, denotando conhecimento profundo do socialismo mais moderno. O que temo, e muito, é o perfil de cidadão que se pretende criar com professores intimidados, amedrontados, conformados, desqualificados, desrespeitados, desautorizados e humilhados: será tudo, menos livres-pensadores!

Luís Costa

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