quinta-feira, 29 de abril de 2010

PSD teme entrada do FMI em Portugal


Crise. Sócrates e Passos prometem trabalhar juntos contra a crise. Mercados acalmaram com anúncio de mais medidas. PSD quer cortes na saúde.


José Sócrates e Pedro Passos Coelho conseguiram sossegar os mercados depois de uma manhã em que a bolsa abriu em forte queda. Num gesto inédito nos últimos anos, apareceram lado a lado, a prometer um combate conjunto à crise financeira. A declaração conjunta foi, assim, de paz e promessa de colaboração estreita.


Mas se Passos Coelho usou da prudência, para assegurar a tranquilidade dos mercados, a verdade é que a nova direcção do PSD continua a temer pela situação do País. Em declarações ao DN, o vice-presidente Diogo Leite Campos frisa que Portugal "precisa de um orçamento rectificativo a sério". E teme que se o Governo não mudar de políticas o FMI tenha mesmo de regressar a Portugal.

Neste último cenário, as medidas seriam muito duras: corte de ordenados, de pensões, redução violenta da despesa pública e aumento de impostos, alerta. "A entrada do FMI em Portugal pode representar a perda da independência económica nacional", afirma Leite Campos.

A agenda do PSD é, assim, a de avançar rapidamente com medidas preventivas. Como relativamente a "todos" os grandes investimentos públicos, que Leite Campos quer ver reanalisados "de imediato", de forma a redefinir os que devem ser concretizados, os que são para adiar e os que são para eliminar.

Mas a imagem e a intenção contam na gestão da actual turbulência económico-financeira. A declaração conjunta do primeiro- -ministro e do líder do PSD, de guerra ao "ataque especulativo sem fundamento ao euro e à dívida soberana portuguesa", deu um sinal de estabilidade aos mercados externos. Ficou bem patente o interesse internacional neste encontro entre adver- sários políticos. Cinco televisões europeias cobriram a "cimeira" e houve mesmo quem, em tom irónico, falasse nos "dois primeiros-ministros".

Ora, apesar de todo o "diálogo", toda a "abertura" para aceitar a antecipação das medidas do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), Pedro Passos Coelho deixou claras as "diferenças políticas" entre Governo e PSD - mesmo que elas não impeçam "de oferecer a Portugal um quadro de estabilidade".

Diogo Leite Campos explica, por outras palavras: para o PSD está liminarmente afastada a hipótese de qualquer bloco central. "Temos um compromisso de lealdade para com o povo e não com o Governo do PS." Fica o recado para as personalidades que viram nesta aproximação Sócrates/Passos uma porta entreaberta para um acordo mais vasto, como os ex-ministros das Finanças Campos e Cunha e Pina Moura, e António Capucho.

No "cimeira" em S. Bento ficou claro que o PSD aceitava a antecipação das medidas do PEC, incluindo as alterações ao subsídio do desemprego e rendimento social de inserção, que já tinham sido anunciadas na última reunião do Conselho de Ministros.

A declaração conjunta não teve novidades no que toca ao caso mais difícil: a anunciada redução das deduções em sede de IRS. Mas Passos levou a São Bento o seu caderno de encargos que, ao que o DN apurou, passa por redução da despesa pública nos consumos intermédios, mas também com o desperdício na área da saúde.

A resposta foi positiva: "O Governo está disposto a fazer tudo o que for necessário e por isso também a discutir as propostas do PSD apresentadas na AR", admitiu Sócrates. O líder do Governo disse, aliás, que considerava ouvir as propostas dos "outros partidos".

O CDS preparou a resposta para hoje, marcando um debate parlamentar de urgência sobre a dívida pública. E vai avançar com propostas. "A crise é rápida e a Europa é lenta", disse ao DN Paulo Portas.

O líder centrista assegura que as medidas da sua bancada vão no sentido do controlo da despesa, e também nos consumos intermédios do Estado. Defende a extensão da regra do dois por um na admissão de funcionários públicos ao poder local e a rescisão por mútuo acordo de emprego público.

Paulo Portas estabelece o limite até ao qual é possível negociar com o Governo: o não aumento de impostos. O líder do CDS apelou já ao "patriotismo financeiro, económico e social", recordando que o País está a ser alvo de um "ataque externo à dívida pública portuguesa".





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