Esta preocupação de tudo regulamentar e dirigir, a partir do centro do poder, a actividade dos professores, controlando passo a passo todos os seus movimentos, atitudes e acções, com leis, decretos-lei, decretos regulamentares, despachos, ofícios, circulares, regulamentos e orientações, está a destruir a liberdade, a criatividade e até a própria produtividade na educação (Esperemos pelos resultados do Pisa). Pior, a educação está a tornar-se numa tirania asfixiante e limitadora da actividade docente.
Pretende-se fazer dos professores autómatos acéfalos, meros executantes de medidas impostas por decreto ou despacho como se fossem obedientes robôs comandados por um qualquer controlo remoto, a partir de um centro nevrálgico. Ao decretar-se, minuciosamente e ponto por ponto, como o professor deve fazer a sua aula, que recursos deve usar, como deve avaliar os seus alunos, como deve, ou não, dar o apoio individualizado, como deve vigiar um exame ou como deve fazer uma reunião, etc., etc., retira-se ao professor a iniciativa, a criatividade e a liberdade, roçando os tiques da hiper-regulamentação típicos do fascismo e do nazismo. Tudo isto acontece, ironicamente, em nome da “democracia”, do “poder democraticamente eleito”, da “legitimidade democrática”, etc., etc.
Começo a ficar preocupado quando observo que os “velhos” paladinos das “liberdades democráticas” e das “liberdades individuais” se mantêm calados, quando assistimos, há já demasiado tempo, a uma teimosia ditatorial técnico-burocrática e a um quase neo-fascismo nas políticas educativas.
Para avaliar o desempenho dos professores não é preciso confundir o acto de avaliar com o de formar, como sucede com o actual modelo, ferido de morte. Para formar os professores, o Ministério pode e deve recorrer a cursos de formação nas Universidades, a cursos de formação por especialistas nas várias matérias desde o uso das novas tecnologias até ao domínio científico e actualizado das matérias dos programas. Para avaliar os professores, bastaria medir, através de provas de exame equilibradas e credíveis, a progressão dos alunos desde o ano em que o professor os recebe até ao ano em que os deixa, podendo, obviamente, o professor retirar uma ou outra turma que, por razões alheias à sua vontade, não manifesta qualquer motivação para os estudos. Outros factores como a assiduidade, a participação nas actividades culturais da escola, a sua formação e publicação científica e pedagógica também devem fazer parte dessa mesma avaliação. Mas deixem – aqueles que nunca deram aulas, que não conhecem os alunos e suas famílias, nem fazem a mínima ideia do que se passa nas escolas – deixem, dizia eu, os professores trabalhar em total liberdade técnica e pedagógica para preparar os seus alunos não só para as provas de exame (os alunos não têm exame em Filosofia, mas os professores são avaliados!) mas também para a sua formação enquanto cidadãos livres e responsáveis, com-scientes e criativos, capazes de responder critica e solidariamente aos desafios do presente e do futuro.
Deixem, por favor, os professores em paz. Viva a liberdade de ensino e no ensino!
Zeferino Lopes, Prof. de Filosofia na Escola Sec. de Penafiel, em 3 de Junho de 2009.
Publicada por Paulo Guinote
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