domingo, 3 de outubro de 2010

Um dia a república vem abaixo


por EURICO DE BARROS


Esta semana, deu aos incansáveis comemoradores oficiais dos 100 anos da República para irem hastear uma enorme bandeira portuguesa no arco da Rua Augusta. A funçanata teve a presença de vetustos adornos republicano-socialistas como Mário Soares, de alguns governantes de segundo plano e figuras camarárias, e da fanfarra da GNR, e ainda direito a cobertura dos telejornais.


No dia seguinte, os cabos que seguravam a bandeira deram de si e ela caiu (a televisão não estava lá, claro). A bandeira foi hasteada de novo, mas algumas horas depois já tinha uma das pontas a esvoaçar. No Facebook, nos murais das pessoas que seguem de perto os assuntos relativos a Lisboa, o ridículo da bandeira do arco da Rua Augusta era abundantemente comentado e até já se faziam apostas sobre quanto tempo demoraria até o pano verde-rubro voltar a cair.


Este episódio da bandeira que é pomposamente hasteada com a presença de individualidades sortidas, charanga e comunicação social, e depois é deixada a sofrer tratos de polé porque o trabalho ficou mal feito, é bem demonstrativo do caricato destas dispendiosas e mal-amanhadas comemorações, que não despertam um farrapo de entusiasmo na esmagadora maioria da população, passando no meio da indiferença quase geral.


A III República esperneia no meio de uma crise como Portugal só viu no tempo da I República, e este episódio da bandeira do arco da Rua Augusta é também simbólico do estado a que chegou o regime, e como que premonitório do futuro nacional. Por este andar, os republicanos nem os 110 anos do 5 de Outubro comemorarão.

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