Ontem toda a gente ficou a saber o que toda a gente já sabia: que Cavaco Silva se recandidata ao cargo de Presidente da República. Se, enquanto associação e movimento de professores, não nos compete tomar posição na refrega eleitoral que aí vem, podemos, no entanto, fazer uma leitura e um balanço do que foi o mandato de Cavaco Silva face à recente luta dos professores e às políticas de ensino adoptadas nestes últimos cinco anos.
E aí há que dizer que o saldo da actuação deste Presidente da República é francamente negativo.
De facto, perante o assalto sem precedentes à qualidade da Escola Pública, com a multiplicação do fabrico de falso “sucesso escolar” , quer através da degradação dos níveis de exigência nos exames nacionais, quer através dessa enorme e dispendiosa fraude chamada «Novas Oportunidades», Cavaco Silva optou sempre pelo silêncio cúmplice ou pelo refúgio em palavras vagas e lugares-comuns inócuos.
Perante o ataque assanhado às condições laborais e à dignidade profissional da classe docente, perante um discurso governativo apostado em fragilizar e rebaixar publicamente a imagem dos professores, perante a introdução de divisões espúrias e de um mal-estar generalizado no seio das escolas, Cavaco Silva manteve o mesmo silêncio e a mesma indiferença.
É, de resto, certo e sabido que Maria de Lurdes Rodrigues, a pior e a mais ofensiva ministra da Educação das últimas décadas, contou sempre com a aprovação e o apoio tácito do actual Presidente da República. Nem o silêncio deste último quis dizer outra coisa.
Não esperávamos, naturalmente, que Cavaco Silva tomasse um partido claro no conflito que opôs (e opõe) os professores ao Ministério da Educação. Mas, da nossa parte, era legítimo desejar que a «magistratura de influência» que ele tanto gosta de referir se manifestasse, ao menos, através de uma palavra de apreço pelo trabalho e pela relevância dos professores na sociedade portuguesa.
Essa palavra, se proferida no momento certo, teria sido um sinal da maior importância para os professores deste país, agredidos que estavam pela sistemática arrogância e pelo mais entranhado desprezo com que Sócrates e a equipa de Lurdes Rodrigues entenderam brindá-los.
E essa palavra, que Cavaco Silva nunca teve a hombridade de pronunciar, teria constituído também uma chamada de atenção para o Governo de que este teria de refrear o seu frenesim de rebaixamento dos professores.
Essa palavra, porém, nunca existiu, e nem sequer tardiamente chegou a ser articulada.
No dia 24 de Janeiro de 2009, os vários movimentos independentes de professores, entre os quais a APEDE, promoveram uma concentração em frente do Palácio de Belém, justamente para que os professores fizessem ouvir a sua indignação junto do Presidente da República. Apesar de, no final dessa iniciativa, terem sido recebidos por uma sua assessora, tudo indica que o protesto embateu, uma vez mais, na indiferença ”coerentemente” demonstrada por Cavaco Silva.
Por tudo isto, temos de ser claros: não nos regozijamos com o anúncio que agora foi feito (sem surpresa para ninguém) da sua recandidatura. Confrontado com a luta dos professores, Cavaco Silva soube apenas dar provas de uma monumental vacuidade.
Só não é uma carta fora do baralho, porque nem sequer chegou a lá estar.
Retirado do Blog APEDE
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